Sururote: o dinheiro social que aumentou poder de compra de marisqueiras em Maceió
04/11/2024
Necessidade de auxílio financeiro para mulheres que atuavam em um projeto de reaproveitamento das cascas do sururu, molusco tradicional na capital alagoana, levou à criação da moeda fictícia que é aceita em mais de 50 estabelecimentos comerciais no bairro. Sururote: entenda como funciona moeda que criou uma economia circular em bairro de Maceió
Já imaginou usar dinheiro parecido com o do 'Banco Imobiliário' para fazer suas compras no supermercado? Isso existe e acontece no bairro do Vergel, em Maceió. O Sururote vem movimentando a economia local e proporcionando uma melhor condição de vida para as marisqueiras da Lagoa Mundaú. (Veja mais abaixo como funciona)
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Em 2019, nascia o Projeto Sururu, que tinha como objetivo aproveitar as cascas do marisco, reduzir o impacto do descarte desses resíduos e gerar um resultado econômico a partir disso. Entretanto, com o início do projeto surgiu uma necessidade de auxílio e direcionamento financeiro para as marisqueiras que estavam lidando com essa reforma em sua economia e precisavam se dedicar ao projeto.
Até então, o ciclo do sururu acabava na venda da carne do marisco. Mas agora se estende até o aproveitamento da casca, que serve para a fabricação de materiais de construção, como o Cobogó Mundaú.
A moeda social criada para fazer girar a economia local foi batizada de Sururote, que é equivalente ao real, mas só é aceita em estabelecimentos cadastrados. E a instituição financeira responsável por essa economia é o Banco Laguna, idealizado pelo Instituto Mandaver, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos que surgiu como uma parceria público-privada e hoje se autossustenta com os lucros gerados pelos produtos da casca do sururu.
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O banco, desde o início contou com o apadrinhamento das marisqueiras, peças fundamentais nesta economia circular, que ajudaram na escolha do nome, das cédulas e de suas ilustrações.
Moeda social tem ilustrações pensadas pelas Marisqueiras
Reprodução/Banco Laguna
Mesmo sendo idealizada em 2019, a moeda só começou a girar em 2021. O funcionamento da moeda é bem simples:
Após realizar toda a limpeza do sururu e separar a carne da casca, essas conchas são postas para secar e passam por uma segunda limpeza, em que as marisqueiras garantem que resíduos indesejados não estejam mais presentes.
O segundo passo é ensacar e levar essas cascas para a fábrica da IABS (também chamada de entreposto), onde essas conchas são pesadas e trocadas por recibos com o peso da quantidade deixada.
É nesse momento que o banco entra. No mesmo dia em que a IABS anuncia o recebimento de cascas, o banco abre atendimento para a troca dos recibos, que são revertidos em Sururotes, a moeda social do Vergel.
Um Sururote equivale ao valor de um Real e é oficialmente aceito em aproximadamente 50 estabelecimentos no bairro, todos cadastrados no Banco Laguna.
As marisqueiras cadastradas no programa podem usar a moeda em diversos estabelecimentos cadastrados no banco laguna, desde supermercados até salões de beleza. Em entrevista ao g1 a presidente do banco, Lisania Pereira, contou quais foram os critérios para os primeiros estabelecimentos cadastrados:
‘’De acordo com pesquisas, essas mulheres que trabalhavam com o marisco contavam com uma renda entre R$ 350 e 400, por isso a prioridade foi a segurança alimentar. À medida que essas mulheres foram aumentando a produtividade dentro do programa, nós fomos entendendo outras prioridades como farmácia e estética.’’
Banco Laguna na Lagoa Mundaú Instituto mandaver
Cortesia/Portobello
Mudança na economia do bairro 💰
Assim como toda economia circular, a moeda não para apenas nos pontos cadastrados, isso porque muitos comerciantes acabam aceitando a moeda mesmo sem ter cadastro, já que também conseguem usá-la na compra de suprimentos de uso próprio.
Mas para trocar o Sururote por real é preciso estar cadastrado no Banco Laguna, que faz atendimento individualizado em dia e horário combinado com o próprio comerciante.
A Verônica, uma das comerciantes que aceita a moeda no bairro, comemora a implantação do projeto e diz que o Sururote alavancou as suas vendas.
"Foi uma parceria bem gostosa pra gente. O Sururote é algo inovador, colocou a gente em casas que nem imaginávamos entrar. Essa criação da moeda veio para acrescentar, tanto pros empresários, quanto para as marisqueiras que usam a moeda."
O gás entregue pela Verônica é só uma das várias novas contas essenciais que muitas marisqueiras passaram a ter com a entrega de novas moradias. Isso porque muitas delas quando habitavam moradias irregulares não tinham custos com água, luz, gás ou internet; encontrando na moeda e na venda das cascas um novo começo.
Empreendedora Veronica comenta impacto do sururote nos negócios
*Sob supervisão de Michelle Farias e Vivi Leão.
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